quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sem culpa cristã

Maria era mulher católica e prendada. Desde cedo tinha fé.
Recatada, de costumes mansos, mas sofria ultimamente.
Sofria com o acontecido inesperado: o fim do seu casamento.
Desde que isso aconteceu, ela chorava aos pés do santo todos os dias.
Era o santo dos causos resgatados, se apegava ao santo para pedir que trouxesse o seu marido de volta, do jeito que ela imaginava.
Quando Maria ia à igreja, eis que o Padre Juvenal garantia:

- Maria, pede ao santo, porque ele te atenderá.

E Maria:

- Sim, estou pedindo todos os dias.

E todas as vezes, acostumada como quem toma banho, ia Maria acender a vela para o santo.
Maria até o encontrava nos sonhos, os sonhos que são a pupila do inconsciente, e o santo sorria.
Certo dia, em casa, ao acordar, surgiu uma aparição. Era ele. O santo dos causos resgatados.
E Maria, extasiada com a experiência nunca antes vivida, foi com tanto desespero ao encontro do além iluminado que nem mesmo lembrou do susto que tinha existido antes.

- Eu sabia. Deus não ia abandonar a minha causa. Ele mandou o senhor aqui.

O santo calado, calado assim ficou.

- Por favor, santo dos causos resgatados, fale algo. Eu preciso muito que o senhor traga o meu marido de volta.

O santo olhou desconfiado e disse:

- Maria! Faça uma simpatia ou qualquer outra coisa. Traga o seu marido de volta, mulher! Você não o quer? Então traga!

Maria ficou abestalhada. E tragou; o cigarro escondido num vaso de flores e saiu em direção à porta surpreendente da vida.Justificar

2 comentários:

Anine Surui disse...

Haha, muito Mia Couto, Renatinha. Ficou maravilhoso. Ficou muito voce tambem, adorei isso. Cada vez melhor.

Anine Surui disse...

Acabei de reler, tem um toque caruaruense nesse conto :) Deu pra ouvir o sotaque do santo. hehe